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CARLA ZAMBELLI, 31 anos Organizadora do movimento NASRUAS, a gerente de projetos tem dedicado quase todo o tempo livre para administrar os grupos de discussão que criou na internet para estimular a mobilização em diferentes estados. Na capital, uniu-se a outros movimentos, como o Dia do Basta, para organizar o próximo protesto, marcado para 12 de outubro. No último feriado, a mobilização reuniu 4 mil pessoas na Avenida Paulista.
Qual o balanço das manifestações de 7 de setembro?
Sabe quando você está no escuro e de repente alguém acende uma vela? Dia 7 foi a vela. Alguém notou que estamos acordando.
O que é esperado dos protestos programados para 12 de outubro?
Espero só uma coisa: que o brasileiro definitivamente se conscientize que precisamos agir. Não adianta ficar só debatendo na internet, temos que sair nas ruas com propostas firmes, sólidas. Estamos nos encontrando para votar propostas e discutir o que é mais importante.
É melhor levantar uma bandeira genérica contra a corrupção ou nomear os políticos corruptos e partidos que deveriam deixar a política e escolher uma causa específica contra a qual lutar?
Se nós conseguirmos tornar constitucional uma lei como a Ficha Limpa, conseguiremos derrubar um Sarney. Se conseguirmos emplacar o voto distrital, conseguiremos derrubar um Valdemar Costa Neto. Não adianta derrubar o Sarney e surgir alguém que aja igual. Se atacarmos o cerne da questão, acredito que teremos sucesso. O voto aberto nas votações do Congresso acaba com palhaçadas como a absolvição da Jaqueline Roriz, por exemplo. Temos que saber como vota quem está votando por nós, para decidir quem queremos reeleger. Essa é uma das bandeiras, mas não a única.
Qual a solução para a corrupção na política brasileira? A mobilização dos manifestantes pode efetivamente mudar este cenário?
Em primeiro lugar, temos que sair às ruas. Temos que ter força, divulgar nossas propostas, para que o governo queira dialogar conosco. Sou contra encabeçar coisas, porque não pode ter uma pessoa decidindo sozinha. Por isso, tentamos juntar todos os grupos, discutir.
Os partidos políticos representam a população? Como você os enxerga?
Não, nem os partidos nem os governantes. Acho que nenhum dos três poderes representa a população. Quando você fala em um país que desvia mais de 3% do PIB para a corrupção, não dá para dizer que nossos governantes estão ali para nos defender. Os partidos políticos brasileiros estão descaracterizados. Eles não têm propostas, todos se aliam para conseguir mais tempo na televisão ou um ministério. É um jogo de interesses.
Você se sente representado por um partido político, pela UNE ou por alguma outra entidade?
Hoje, não me sinto representada por nada. Na época da faculdade, sentia que era representada pela UNE. Mas eles não nos ajudaram em nada com as manifestações do dia 7 de setembro e ainda têm coragem de dizer que nos apoiam.
O Brasil tem jeito?
Quero que tenha, estou brigando por isso. Acho que não vai ter jeito para mim, mas talvez tenha para meu filho. O João tem três anos e é para ele que estou fazendo isso.
BRASÍLIA
Fernando Bizerra Jr/EFELUCIANNA KALIL, 31 anos
A vendedora não se considera uma pessoa politizada, mas liderou um protestou com mais de 15 mil pessoas. Na primeira reunião para discutir a manifestação de 7 de setembro, participaram apenas três pessoas – Lucianna, sua irmã e um amigo. Hoje, ao lado de dezenas de brasilienses, ela se prepara para organizar a marcha do dia 12 de outubro.
Qual o balanço das manifestações de 7 de setembro?
Acho que o povo está mostrando sua indignação, está reagindo. É uma demonstração de que chegamos ao limite e algo tem que ser feito. O feedback foi muito bom. Todos que participaram gostaram bastante e se sentiram parte do movimento. Ninguém se sentiu excluído. Quem foi à manifestação sozinho, acabou conhecendo pessoas, fazendo amizades.
O que é esperado dos protestos programados para o dia 12 de outubro?
Espero que muitas pessoas compareçam para que possamos conseguir um resultado efetivo para as duas bandeiras que levantaremos. Será semelhante ao protesto de 7 de setembro, mas desta vez com um foco. Em uma reunião, decidimos lutar pelo voto aberto no Congresso e pela constitucionalidade da Ficha Limpa. A lei ainda está em tramitação e queremos fazer barulho para que ela seja votada logo.
É melhor levantar uma bandeira genérica contra a corrupção ou nomear os políticos corruptos e partidos que deveriam deixar a política e escolher uma causa específica contra a qual lutar?
Temos que tomar uma posição mais neutra. Costumo dizer que essa marcha foi do povo para o povo. Não é possível levantar a bandeira de qualquer partido ou político, porque todos estão desacreditados. Além disso, a escolha do político é muito pessoal e as opiniões devem ser respeitadas. Conseguimos muitas adesões exatamente por ter essa característica, essa posição neutra.
Qual a solução para a corrupção na política brasileira? A mobilização dos manifestantes pode efetivamente mudar este cenário?
Só conseguiremos mudar com uma cobrança efetiva e alterando a legislação atual. Por exemplo, ter mais transparência é essencial para conseguir cobrar quem você elegeu. O voto aberto permitiria isso. A Ficha Limpa seria um fator que, em longo prazo, poderia acabar com a corrupção. No futuro, teríamos apenas pessoas com o nome limpo no governo. Para isso, vamos colher assinaturas pedindo o fim do voto secreto e a aplicação da Ficha Limpa. Para que tenha valor, são necessárias 1 milhão de assinaturas em 4 estados.
Os partidos políticos representam a população? Como você os enxerga?
Não sou muito politizada, não tenho muita informação sobre os partidos. Como uma pessoa comum, acho que todo mundo deveria ter um partido. De repente, com pessoas boas lá dentro, aquele partido comece a mudar, a ter novas ideias. Falta realmente uma conscientização política do povo.
Você se sente representado por um partido político, pela UNE ou por alguma outra entidade?
Não, nunca fui partidária. Nunca votei em partido, sempre votei no político.
O Brasil tem jeito?
Ah, tem. Mas para isso as pessoas precisam se movimentar, precisamos da ajuda do povo. É necessário resolver as coisas de fora para dentro. É melhor tentar uma mobilização do que esperar ajuda dos parlamentares. O povo tem feito tantas mudanças em outros países, por que a gente não consegue? Cada um tem que saber o valor que tem para o coletivo.
RIO DE JANEIRO
ReproduçãoCRISTINE MAZA, 50 anos
Uma das organizadoras do movimento pioneiro contra a corrupção, a empresária só acompanhou de longe as manifestações de 7 de setembro. Na capital carioca, o protesto está marcado para o próximo dia 20, às 17h, no centro do Rio de Janeiro. No Facebook, 30 mil pessoas confirmaram presença no evento.
Qual o balanço das manifestações de 7 de setembro?
Organizamos um protesto para o dia 20 e, depois, soubemos que manifestações estavam sendo marcadas para o Dia da Independência. Decidimos não mudar a data, pois não queríamos fazer num feriado, mas aproveitar o horário da saída do trabalho. Embora em datas diferentes, é o mesmo grito, a mesma indignação.
O que é esperado dos protestos programados para o dia 20 de setembro?
Espero que seja um caminho para que esses governantes acordem. A ideia é que essa mobilização não pare, não podemos mais ficar calados. Eu acredito que reuniremos mais de 20 mil pessoas.
É melhor levantar uma bandeira genérica contra a corrupção ou nomear os políticos corruptos e partidos que deveriam deixar a política e escolher uma causa específica contra a qual lutar?
A melhor bandeira é contra a corrupção. Não vamos conseguir atingir os que já estão no poder, então temos que começar a mudar a partir da próxima eleição. As pessoas precisam buscar informações sobre onde vão colocar seu voto. Quem é o cara? É Ficha Limpa? Acho que essas manifestações vão acabar criando essa consciência.
Qual a solução para a corrupção na política brasileira? A mobilização dos manifestantes pode efetivamente mudar este cenário?
Acho que é muito importante a aprovação do projeto de lei que caracteriza a corrupção como crime hediondo. É necessário também acabar com o voto secreto nas votações do Congresso, mas tudo é um processo. Tem tanto projeto tramitando que não adianta criar mais um. Essa manifestação é um grito de sufoco. Pela Ficha Limpa, pelo fim do foro privilegiado, é uma ação de cidadania.
Os partidos políticos representam a população? Como você os enxerga?
Não representam grande parte dos brasileiros. Eu não me sinto representada por ninguém que está ali. Estão todos comprometidos apenas uns com os outros. Não entendo de política, só estou indignada. E para estar indignada não precisa entender nada.
Você se sente representada por um partido político, pela UNE ou por alguma outra entidade?
Não, acho que não.
O Brasil tem jeito?
Claro que tem. É um povo lindo, uma terra linda. Basta mudar os políticos.
PORTO ALEGRE
OAB/RSADILSON DI, 42 anos
Quase duas décadas depois de participar do movimento dos caras-pintadas, o consultor voltou às ruas para gritar contra a corrupção. Ao ver os protestos se formando em diversos estados, resolveu criar um evento no Facebook para os porto-alegrenses. Segundo ele, a mobilização reuniu 700 pessoas no dia 7 de setembro e deve crescer ainda mais no dia 20, quando os manifestantes voltam a marchar no feriado em comemoração à Revolução Farroupilha.
Qual o balanço das manifestações de 7 de setembro?
O dia 7 foi um grito nacional. A internet cumpriu o objetivo de dar o pontapé inicial para a marcha contra a corrupção. Conseguimos falar com um grande número de pessoas na rede, que avisaram os amigos, a família. Alguém tinha que dar o primeiro grito e surgiu a oportunidade de todo mundo gritar junto, no mesmo dia.
O que é esperado dos protestos programados para 20 de setembro?
Está havendo uma mobilização muito grande, embora ainda de forma desordenada. Agora é uma fase em que cada um está fazendo seu protesto. Devagarinho, estão começando a colocar ideias dentro da luta, não simplesmente lutando contra a corrupção, mas dizendo o que querem combater na corrupção.
É melhor levantar uma bandeira genérica contra a corrupção ou nomear os políticos corruptos e partidos que deveriam deixar a política e escolher uma causa específica contra a qual lutar?
Muita gente diz que temos que ter um bode expiatório e que precisamos dizer “fora Sarney”, “fora Roriz”, fora não sei quem, mas nós acreditamos que temos que ser contra a corrupção. O objetivo são leis que combatam a má conduta dos políticos.
Qual a solução para a corrupção na política brasileira? A mobilização dos manifestantes pode efetivamente mudar este cenário?
Estamos tentando unificar os grupos em nível nacional, criando redes de discussões. Assim, podemos entregar propostas. Definimos cinco pontos para defender na manifestação do dia 20. Gritamos pela Ficha Limpa, pelo fim do foro privilegiado, pelo voto aberto nas votações do Congresso, pela revisão dos critérios para aprovação de emendas e pela aprovação do projeto de lei que caracteriza a corrupção como crime hediondo.
Os partidos políticos representam a população? Como você os enxerga?
Não representam. Partido políticos são instituições falidas. Eles não têm mais um viés ideológico, não têm nada. Os partidos que hoje estão na base de governo do PT também eram da base do PSDB. Então é tudo a mesma coisa.
Você se sente representado por um partido político, pela UNE ou por alguma outra entidade?
Não. Tenho acompanhado a UNE dizer que estão ajudando, recolhendo assinaturas, mas eles não estão fazendo nada. Foram tomados por partidos políticos.
O Brasil tem jeito?
A gente quer achar um norte, discutir. Primeiro vamos combater a corrupção, que é algo escancarado, generalizado. Agora chega, não dá, algo tem que ser feito.
BELO HORIZONTE
ReproduçãoJÉSSICA PEREIRA, 20 anos
Quando viu a manifestação contra a corrupção organizada pelo Facebook em São Paulo, a administradora não hesitou em levar a mobilização para a capital mineira e criou um movimento levou centenas de pessoas para as ruas. Outro protesto está sendo organizado para o próximo mês.
Qual o balanço das manifestações de 7 de setembro?
Os protestos mobilizaram muita gente e, pelo que sei, incomodaram muito os políticos. Mesmo sem tanto apoio da mídia, a repercussão nas redes sociais foi bem grande. Acredito que os brasileiros estão começando a acordar, deixando de ser espectadores e começando a agir.
O que é esperado dos próximos protestos?
Queremos mostrar que não foi apenas uma manifestação, porque haverá continuidade. Esperamos incomodar mais e mais os políticos a cada protesto.
É melhor levantar uma bandeira genérica contra a corrupção ou nomear os políticos corruptos e partidos que deveriam deixar a política e escolher uma causa específica contra a qual lutar?
Devemos levantar a bandeira de um povo insatisfeito. Insatisfeitos com a saúde, com a educação, com a falta de segurança, com os impostos altíssimos, com o desvio de verbas públicas.
Qual a solução para a corrupção na política brasileira? A mobilização dos manifestantes pode efetivamente mudar este cenário?
A solução é uma reforma política. O ideal seria eliminar a maioria dos partidos para ficar com no máximo três: um representante da direita, outro da esquerda e um de centro. Estamos lutando e acreditamos que vai dar certo.
Os partidos políticos representam a população? Como você os enxerga?
Não, há muitos partidos políticos e eles só pensam no próprio bem.
Você se sente representado por um partido político, pela UNE ou por alguma outra entidade?
Não. Eu me represento fazendo o meu papel na sociedade, lutando por um país melhor e mais justo.
O Brasil tem jeito?
Claro que tem. Mas para o Brasil tomar jeito ainda falta mobilização, já que muitos brasileiros insistem em dizer que “o país não tem mais jeito" ou que os "políticos são todos iguais".
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Que bacana que vocês divulgar a entrevista que dei à Veja, obrigada pela força!
ResponderExcluirAbraços,
Carla Zambelli - carlazambelli@uol.com.br