As vozes do agentes de cidadania
As vozes do agentes de cidadania
Por Jorge Maranhão
Publicado no Diário do Comércio de São Paulo em 03/10/2013
Por força do trabalho de comentarista de rádio sou obrigado a
monitorar, para além da “voz das ruas” das manifestações de indignação
da sociedade, a própria “voz dos cidadãos” mais conscientes e com
propostas concretas, mas diluídas ou sem o merecido espaço na mídia de
massa. Com a exceção das publicações especializadas, veículos impressos
de entidades e blogs pessoais, são propostas relevantes de construção de
políticas públicas que carecem de maior visibilidade. Até mesmo para
que não se viva na desesperança de achar que nada está acontecendo para
além da massacrante cobertura ampla, geral e irrestrita da maracutaia
cotidiana de nossa classe política. Um dos últimos casos que comentei,
para dar um bom exemplo, foi a petição por uma tarifa mais barata no
transporte público disparada neste mês nas redes sociais, em resposta ao
tema mais frequentado nos cartazes e gritos das ruas: a questão do
transporte público, caro demais e de péssima qualidade na grande maioria
das cidades.
A proposta vem de membros da rede Nossa São Paulo e consiste na
transferência de federal para municipal a arrecadação e gestão da Cide -
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, um imposto sobre a
gasolina, com o compromisso, é claro, de que 100% sejam revertidos para o
setor de mobilidade urbana de cada cidade. Uma proposta de cidadania
que revela uma consciência crítica do modelo atual “dos grandes
campeões”, de premiar megaempresas ou setores inteiros da economia com
subsídios que não correspondem às prioridades dos cidadãos, são
prejudiciais à competitividade de mercado, à qualidade final de produtos
e serviços entregues aos cidadãos consumidores e à arrecadação dos
cofres públicos.
Assim como esta recente proposta, centenas de outras tenho comentado
nos boletins de rádio e nas redes sociais da Voz do Cidadão nos últimos
dez anos, o que me levou a decisão de reuni-las num único canal para ver
se ganham mais espaço no noticiário das grandes redes de comunicação,
única maneira que temos de fazer prevalecer na atividade política
nacional a cultura de participação social da cidadania diante da cultura
de impunidade e transgressão predominantes no nosso imaginário social.
Para tanto, contamos com os seguintes efeitos para um programa de mídia
que denominamos de Agentes da Cidadania. Primeiro: a estruturação da
informação percebida, segundo uma lei da filosofia que diz que a
estrutura é mais do que a soma das partes. Juntar num único espaço,
mesmo que virtual, centenas de propostas de cidadãos atuantes, resulta
mais do que na diversidade dos autores e seus depoimentos, mas na
possibilidade de uma mudança radical na relação política entre
governantes e governados. Segundo: a superação da relação meramente
reivindicatória de melhores serviços públicos - a voz das ruas - para
uma relação de participação na própria formulação e execução das
políticas públicas, a voz dos cidadãos, abre uma nova perspectiva
política. A percepção gradual de que os primeiros depoimentos, de vozes
isoladas "dos que detêm competência para discorrer sobre temas
específicos" vão se transformando "num conjunto de cidadãos articulados
numa ação política maior de participação e controle social das políticas
públicas". Terceiro: o próprio resgate da uma elite, cuja função
política é a verdadeira essência da democracia, onde só se supera a
oclocracia do demos com a intermediação dos cidadãos atuantes que devem
conduzir a res publica, o que chamamos de verdadeiros agentes de
cidadania! Por último, atingiremos o efeito moral e cívico que supera o
dilema paralisante de uma educação formal desqualificada, um jornalismo
que dilui as propostas ao sabor do curso aleatório do noticiário, e o
entretenimento que reproduz a corrupção dos valores predominante no
nosso imaginário social. Para tanto, a proposta do programa de Agentes
de Cidadania é dirigir para o espaço das redes sociais e dos intervalos
das grandes mídias uma campanha perene de resgate de uma nova cultura
política!
E para os céticos e cínicos de plantão, saibam que não estou a inventar
a roda. Tais campanhas contam com modelos tão vitoriosos quanto
históricos na transformação de uma cultura política de elites de países
setentrionais, como o “Crime doesn’t pay” americano, por iniciativa da
Fox Corporation na década de 40; a “Democratic Life” da Citizenship
Foundation inglesa na década passada; e mesmo a “No votes por colores o
discursos; vota por las mejores propuestas” da Televisa mexicana. O que
vai de encontro a uma forte convicção que tenho desenvolvido nos últimos
anos no campo da estratégia de argumentação e cujo princípio básico
enuncia a mídia, não apenas como simples reprodutora dos fenômenos do
imaginário social, mas também como coprodutora dos mesmos. Pois sabemos
que o fato narrado não se limita à realidade, uma vez que este se compõe
também e necessariamente dos fenômenos do imaginário social, ou, como
alguns mais pedantes chamam, do Zeitgeist. Para tanto, a campanha de
propostas dos Agentes de Cidadania deve seguir o roteiro de resgatar da
mentalidade política dominante os valores morais da tradição clássica,
que são muito mais fortes nas crenças da opinião pública do que pretende
qualquer romântico progressista.
Para além dos valores morais, que devem fundar a atividade política,
devemos resgatar crenças, uma vez que somos sempre movidos e comovidos
pela esperança de alcançar uma "condição melhor" do que aquela na qual
vivemos. Para além da informação sobre a realidade e o impacto da
notícia, devemos ter em mente que também se muda uma cultura pela
lembrança e identificação frequente das tradições, uma vez que é
inimaginável o convívio social pacífico sem as mesmas. Se a narrativa do
jornalismo quer dominar a razão pelo fato e a o entretenimento quer
dominar a emoção pela imagem, o intervalo entre os dois pode ser esta
“condição melhor” da esperança. Para tanto, a campanha deve ter a
perenidade de uma crença e não apenas a fugacidade publicitária; e que
pretenda convencer pelas propostas assim como persuadir pelos sujeitos.
As propostas, por seu turno, devem ser simples e de alternativas
objetivas de políticas públicas feitas, não por governantes apenas, mas
por cidadãos atuantes que se encontram, mesmo que no espaço virtual da
mídia, mas com faculdade de se reunir em assembleias presenciais. Para
além de cidadãos capazes e conscientes, o efeito será o da convicção de
que todos podem influir no espaço e nas políticas públicas, a despeito
da notoriedade distanciada dada a celebridades e políticos pela mídia de
massa. Como verdadeiros agentes de cidadania fazendo suas propostas, em
pouco tempo nos cairá a ficha de que qualquer cidadão pode participar
desde que tenha propostas claras e se engaje nas mesmas, predicados de
uma verdadeira elite.
* Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão. Email: jorge@avozdocidadao.com.br
Já enviei, através do jorge@avozdocidadao.com.br, ao Jorge Maranhão as ações que tenho realizado para um futuro melhor ao nosso país e seus cidadãos. ;)
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